segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Somos o Mosaico Popular na Escola Jesuíno

“Nós somos o Mosaico Popular”, assim era nossa apresentação na Escola Estadual Jeuíno D’Àvilla, nosso primeiro contato com os alunos nos quais pretendemos trabalhar.Nossas reuniões, antes de chegar na escola, circundavam uma grande ansiedade e preocupação: Como vamos chegar na escola? O que iremos falar no primeiro contato? Que assunto abordar? Política? Educação? Não sabíamos o que nos aguardava. Fomos, entramos, conversamos. Apresentamos-nos como coletivo e com nossos nomes, queríamos estabelecer um primeiro vínculo e calcular cada palavra que seria dita para que nossa proposta não fosse rejeitada na primeira oportunidade, na verdade, para não falar bobagem diante de um público desconhecido.
E o melhor era ver a curiosidade dos alunos sobre o que estávamos fazendo ali.
 Sim, tivemos a atenção deles. Pudemos, em poucos minutos, no primeiro contato, falar sobre educação, política, sexualidade, feminismo, machismo, homossexualidade, bullying, problemas sociais, estrutura da nossa sociedade. Estávamos abrindo espaço para o que é teoria ser transformado em prática, falamos sobre quais eram nossos objetivos. Vimos que além de curiosidade tinha também interesse. Sabemos que irão alunos e alunas com visões e problemas diferentes (sabemos também que uma sala com 40 alunos é sempre assim) e sabemos que encontraremos problemas na forma de conduzir as discussões – a lógica opressora é muito enraizada, sabemos que o esforço será grande, sabemos que o prazer será maior, sabemos que mudaremos de uma forma ou de outra a forma de ver o mundo destas crianças e jovens que querem e precisam rever conceitos e visões de mundo numa linguagem mais próxima. Um passo foi dado, agora nos cabe estruturar mais ainda nossos objetivos, estruturar, pensar, repensar, organizar e finalmente praticá-los. Assim como fomos bem recebidos, desde o primeiro contato com a direção da escola, queremos receber estes alunos e nos esforçar para além de um belo trabalho, fazermos uma bela lição, discutir opressões e tentar/fazer com que saiamos com o sentimento fortalecido de que o Mosaico Popular esta fazendo a parte dele, multiplicando agentes, para uma sociedade mais justa e igualitária.

Pedro Rogerio







quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Discutindo Identidade de Gênero: um caminho para o respeito as diferenças.

O coletivo “Mosaico Popular”, em suas mais variadas atividades, tem por principal objetivo intervir em busca de uma sociedade livre de toda forma de opressão, onde o povo seja protagonista de suas conquistas a partir de uma formação emancipadora. Acreditamos que o Trabalho de Base é fundamental para construção dessa sociedade. Várias são as repressões sofridas no atual sistema, discriminação por classe social, cor, sexualidade, religião. É preciso que o trabalho realizado na base trate de temas que envolvem todo esse sistema opressor.
          Para que haja um despertamento sobre as variadas formas de opressão, é fundamental que exista uma discussão aprofundada sobre as identidades de cada sujeito e suas subjetividades. Nesse texto, queremos expor uma breve reflexão sobre Identidade de Gênero e as formas de discriminação sofridas por indivíduos que não se encaixam nos padrões sociais estabelecidos. Além disso, pretendemos discutir – de forma sucinta - o papel da escola diante dessas subjetividades e a responsabilidades pela formação de cidadãos conscientes de que as diferenças precisam ser respeitadas.
Para iniciar nossa reflexão é importante definirmos o que seria essa Identidade de Gênero. Há uma confusão entre identidade sexual e de gênero, muitas vezes são pensadas de forma equivalente, mas não são. Tentaremos explicar da melhor maneira.
         A identidade sexual está relacionada ao desejo que sentimos pelo outro, seja ele do sexo oposto, ou não. Já a identidade de gênero se refere aos sexos feminino e masculino. 
Quando falamos de sexo, referimos-nos apenas a dois sexos: homem e mulher, mas a temática de gênero é bem mais complexa, pois remete à constituição do sentimento individual de identidade. Para Stoller (1978), todo indivíduo tem um núcleo de identidade de gênero, que é um conjunto de convicções pelas quais se considera socialmente o que é masculino ou feminino.
 A escolha sexual não intervém na identidade de gênero do indivíduo, ou seja, um homem que se sinta atraído por homens não, necessariamente, deixa de se sentir homem. É importante destacar que, algumas pessoas não são compreendidas, pois nascem parecendo ser do sexo oposto ao seu, enquanto sua identidade de gênero não condiz com a aparência, e muitas vezes sofrem a incompreensão e outros tipos de violências.
Cada um de nós possui suas identidades e subjetividades, que estão constantemente sendo formadas a partir das experiências, o que ocorre é que mesmo que cada ser humano tenha consciência que é um ser subjetivo, o que acontece é que tendemos sempre a não compreender o outro.
Essa não compreensão pode gerar problemas graves, no caso de alguém que não se encaixa nos padrões heteronormativos, há problemas como a não-aceitação por parte da família, dos amigos, da escola, enfim, das principais instituições que compõe a sociedade. Existem aqueles que dizem não ter nada contra, mas se omitem em lutar pela causa; aqueles que preferem manter distância, sem procurar conhecimento; aqueles que chegam a violentar fisicamente essas pessoas. E ainda existe a violência mascarada, que atua através de piadinhas, olhares repressores, julgamentos preconceituosos, exclusão.
          Qual o papel da escola nesse contexto? O que acontece, na maioria dos casos, é que as escolas passam por cima das subjetividades de cada aluno, tratando-os como um todo, e esperando a “normalidade” de cada um. Quando os educadores se deparam com casos que fujam dos padrões estabelecidos, geralmente não sabem como agir nessa situação, se omitem ou tentam “ajudar” sem conhecimento sobre a realidade – sem metodologias que viabilizem discussões de empoderamento, de empatia, sem apoio profissional na composição da escola. Há casos que a ajuda oferecida é a tentativa de mostrar para o sujeito que ele precisa modificar seu comportamento para ser aceito, procurar a cura, ao invés de dar todo o apoio necessário.
Um caminho a ser traçado poderia pautar o trabalho de base que discutisse formas de identidade e participação na construção da sociedade, que mostrasse que cada sujeito tem como principal direito o respeito. Dialogar com os alunos sobre essas diferenças, fazendo um acumulo de conhecimento, surti um resultado, não imediato, mas de multiplicação de opiniões positivas. Trabalhar temas polêmicos em sala de aula pode ser frustrante, mas enquanto não tocarmos nesses assuntos e trabalha-los, tentando articular diferentes formas de diálogos, não iremos transformar as estatísticas que matam gays, lésbicas, travestis, transexuais e transgêneros. 
A escola precisa sair da queixa e arriscar metodologias que assumam seu papel enquanto formadora de cidadãos, que rompam com as limitações do contexto educacional e que, minimamente, reformule suas funções, já que as demandas que chegam nos corredores da escola são diversas.
Percebemos que, a partir do momento que a escola passar a debater temas como identidades - de gênero, de cor, de sexualidade, social, política – um novo caminho será traçado em busca de mudança social que paute o respeito pelas diferenças, e isso influenciará em outras transformações, como a maneira de cada indivíduo elaborar suas alternativas de atuar no mundo, refletir, concordar ou não com o senso comum e contribuir com as alternativas de superação.

Flávia Ribeiro.

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Homofobia: O Incomodo do Poder do Amor



Nosso movimento pode ter iniciado como a luta de uma minoria mais o que devemos agora tentar  ’’liberar’’ é um aspecto das vidas pessoais de todos - a expressão sexual .
Jonh D’Emilio, “Capitalisn and gay identity”, p.229

A homofobia está relacionada à rejeição do outro por suas escolhas sexuais, é a repressão e hostilidade contra o desejo que o outro possa ter por uma pessoa do mesmo sexo, e que fuja dos padrões da família patriarcalista na sociedade. Assim como outras classes de minoria que são vistas como o diferente, fora do comum, os homossexuais adentram nessa estrutura de opressão que é demonstrada como homofobia.
     A primeira vez que surgiu essa palavra foi nos Estados Unidos na década de 70, onde começaram também os primeiros movimentos gays e lésbicos, sobre a liberação sexual. Mais foi a partir dos anos 90 que veio agregar os dicionários e dialogar com esse tema, junto com o movimento LGBT. Essa visão de que o gay, lésbica vai ser o inferior, o marginalizado, o irracional é uma tendência que ao longo dos anos vem sendo discutida. Não somente essas questões de análises de alteridade, mas a questão epistemológica mesmo, de entender o funcionamento do homossexualidade, suas origens e o por quê dessa provocação toda que ela causa. Dentro desses fatores, cabe colocar a questão política e problematizar a homofobia pensando em políticas de formação e aceitação. Como qualquer outra forma de desejo erótico e afeto, a homossexualidade é tão legitima quanto a heterossexualidade. Não se trata de uma hierarquização sexual, colocando a heterossexualidade como superior a qualquer outro tipo de orientação sexual - tal como a homossexualidade - inferior.
 A própria hierarquização sexual é uma homofobia social. A moral que se trata de vulgarização do gay e da lésbica, que seria rebaixá-los a situações ridículas, expondo eles à sociedade como ‘’anormais’’, e vai bem além disso, chegando a situações brutais, como estamos vivendo de certo tempo pra cá, a violência exacerbada contra eles. Esse medo de que os homossexuais sejam equivalentes e estejam conseguindo seu espaço, assusta a ordem heterossexual causando essa ação contraria, a algo que é legitimo e livre de sentir. Políticas para aprofundar esses debates, por exemplo na escola, pondo a homossexualidade como temas transversais é um avanço pra conscientização da sociedade.  
A escola tem que ter esse papel de orientar os alunos a entender essas novas manifestações sexuais, sociais que vem surgindo ao longo do tempo. A reprodução heteronormatizada pela família e pela escola, onde se reproduz muito isso, é um problema que deve ser revisto e orientado. Formação e diálogo com esses educadores e educadoras e com a família é válido e vai fazer a transformação. O que devemos defender além de todas essas questões conceituais e dados de pesquisas sobre a homofobia e a homossexualidade, é que existe o amor, o afeto que é algo pertencente a qualquer humano e da natureza dele. Subjugar @ outr@, por sua cor, raça, sexo, religião é negar a liberdade que tanto falamos que queremos e que temos conquistado. Mais que liberdade aprisionada é essa? Ao preconceito, à intolerância? A construção de todas essas questões deve ser de liberação ao outro e as suas escolhas. 

Kalline Laira.

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Trabalho de Base e Educação Popular.

Para iniciar um projeto social é necessário apoderar-se do contexto que se propõe trabalhar.
Trabalho de Base e Educação Popular são instrumentos que dão suporte para a elaboração das atividades de coletivos que propõem intervenções em busca de uma sociedade possível, livre de toda forma de opressão e na qual o povo seja protagonista de suas conquistas a partir de uma formação emancipadora. Por que escolher esses dois caminhos?
A história do Brasil nos mostra que as grandes mobilizações e conquistas sociais estiveram sempre alicerçadas em diversas organizações de base que, ao seu modo, desenvolviam um olhar crítico de setores populares da sociedade acerca da conjuntura político-social. Nas últimas décadas, após o processo de "redemocratização" e, posteriormente, a ascensão de um governo populista, muito desta prática foi substituída por outras formas de intervenção dos movimentos organizados, principalmente na esfera institucional.
Acreditamos que a retomada do Trabalho de Base é um passo fundamental para o avanço das lutas por igualdade e justiça social. É através do Trabalho de Base que é possível conhecer as pautas que serão defendidas. Não somente de uma forma teórica e vertical, onde parcela da sociedade que tem "consciência" do processo de opressão dita as regras e as metodologias que transformarão as desigualdades sociais. Entender a dinâmica do sistema opressor, reconhecendo os mecanismos de opressão a partir da perspectiva prática e do contato, é o meio mais eficaz.
É importante, contudo, cuidar para que não nos coloquemos de forma travestida nos espaços que ocupamos para intervir. Sendo assim, o trabalho de base é um instrumento para a execução da Educação Popular. Transformando a informação em conhecimento emancipador e provocando nos sujeitos a auto-crítica sobre os interesses e objetivos do que lhes é transmitido, a Educação Popular cumprirá um papel de suma importância na busca utópica por uma sociedade igualitária, contrapondo-se aos modelos alienantes de “educação” que para nada mais servem do que produzir mão-de-obra para a manutenção do sistema capitalista.
Engajados nessa luta, somos o Mosaico Popular, um coletivo denominado a partir da conceituação do Moacir Gadotti de que a Educação Popular se dá em múltiplos espaços que alinhados formam um "mosaico" de luta por emancipação. O que as vezes pode parecer uma fragmentação da luta é, na realidade, uma coordenação de forças necessárias para a construção de uma base forte e pronta para fazer a mudança social em busca da equidade dos seres entre si e o meio.

Jonathas Levi dos Santos