O coletivo “Mosaico Popular”, em suas mais variadas atividades, tem por principal objetivo intervir em busca de uma sociedade livre de toda forma de opressão, onde o povo
seja protagonista de suas conquistas a partir de uma formação emancipadora.
Acreditamos que o Trabalho de Base é fundamental para construção dessa
sociedade. Várias são as repressões sofridas no atual sistema, discriminação
por classe social, cor, sexualidade, religião. É preciso que o trabalho
realizado na base trate de temas que envolvem todo esse sistema opressor.
Para que haja um despertamento sobre
as variadas formas de opressão, é fundamental que exista uma discussão
aprofundada sobre as identidades de cada sujeito e suas subjetividades. Nesse
texto, queremos expor uma breve reflexão sobre Identidade de Gênero e as formas
de discriminação sofridas por indivíduos que não se encaixam nos padrões
sociais estabelecidos. Além disso, pretendemos discutir – de forma sucinta - o
papel da escola diante dessas subjetividades e a responsabilidades pela formação
de cidadãos conscientes de que as diferenças precisam ser respeitadas.
Para iniciar nossa reflexão
é importante definirmos o que seria essa Identidade de Gênero. Há uma confusão
entre identidade sexual e de gênero, muitas vezes são pensadas de forma equivalente,
mas não são. Tentaremos explicar da melhor maneira.
A identidade sexual está relacionada ao desejo
que sentimos pelo outro, seja ele do sexo oposto, ou não. Já a identidade de
gênero se refere aos sexos feminino e masculino. Quando falamos de sexo,
referimos-nos apenas a dois sexos: homem e mulher, mas a temática de gênero é
bem mais complexa, pois remete à constituição do sentimento individual de
identidade. Para Stoller (1978), todo indivíduo tem um núcleo de identidade de
gênero, que é um conjunto de convicções pelas quais se considera socialmente o
que é masculino ou feminino.
A escolha sexual não intervém na identidade de
gênero do indivíduo, ou seja, um homem que se sinta atraído por homens não,
necessariamente, deixa de se sentir homem. É importante destacar que, algumas
pessoas não são compreendidas, pois nascem parecendo ser do sexo oposto ao seu,
enquanto sua identidade de gênero não condiz com a aparência, e muitas vezes
sofrem a incompreensão e outros tipos de violências.
Cada um de nós possui suas
identidades e subjetividades, que estão constantemente sendo formadas a partir
das experiências, o que ocorre é que mesmo que cada ser humano tenha consciência
que é um ser subjetivo, o que acontece é que tendemos sempre a não compreender
o outro.
Essa não compreensão pode
gerar problemas graves, no caso de alguém que não se encaixa nos padrões
heteronormativos, há problemas como a não-aceitação por parte da família, dos
amigos, da escola, enfim, das principais instituições que compõe a sociedade.
Existem aqueles que dizem não ter nada contra, mas se omitem em lutar pela
causa; aqueles que preferem manter distância, sem procurar conhecimento;
aqueles que chegam a violentar fisicamente essas pessoas. E ainda existe a
violência mascarada, que atua através de piadinhas, olhares repressores, julgamentos
preconceituosos, exclusão.
Qual o papel da escola nesse
contexto? O que acontece, na maioria dos casos, é que as escolas passam por
cima das subjetividades de cada aluno, tratando-os como um todo, e esperando a
“normalidade” de cada um. Quando os educadores se deparam com casos que fujam
dos padrões estabelecidos, geralmente não sabem como agir nessa situação, se
omitem ou tentam “ajudar” sem conhecimento sobre a realidade – sem metodologias
que viabilizem discussões de empoderamento, de empatia, sem apoio profissional
na composição da escola. Há casos que a ajuda oferecida é a tentativa de
mostrar para o sujeito que ele precisa modificar seu comportamento para ser
aceito, procurar a cura, ao invés de dar todo o apoio necessário.
Um caminho a ser traçado
poderia pautar o trabalho de base que discutisse formas de identidade e
participação na construção da sociedade, que mostrasse que cada sujeito tem
como principal direito o respeito. Dialogar
com os alunos sobre essas diferenças, fazendo um acumulo de conhecimento, surti
um resultado, não imediato, mas de multiplicação de opiniões positivas.
Trabalhar temas polêmicos em sala de aula pode ser frustrante, mas enquanto não
tocarmos nesses assuntos e trabalha-los, tentando articular diferentes formas
de diálogos, não iremos transformar as estatísticas que matam gays, lésbicas,
travestis, transexuais e transgêneros.
A escola precisa sair da
queixa e arriscar metodologias que assumam seu papel enquanto formadora de
cidadãos, que rompam com as limitações do contexto educacional e que,
minimamente, reformule suas funções, já que as demandas que chegam nos
corredores da escola são diversas.
Percebemos que, a partir do
momento que a escola passar a debater temas como identidades - de gênero, de
cor, de sexualidade, social, política – um novo caminho será traçado em busca
de mudança social que paute o respeito pelas diferenças, e isso influenciará em
outras transformações, como a maneira de cada indivíduo elaborar suas
alternativas de atuar no mundo, refletir, concordar ou não com o senso comum e
contribuir com as alternativas de superação.
Flávia Ribeiro.